terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Quase no alvo!

Foi uma pena, mas os sapatos jogados pelo jornalista iraquiano, Muntadhar al Zaidi, contra o presidente (quase ex) dos Estados Unidos, George W. Bush, erraram o alvo.
Junto às palavras "este é o seu beijo de despedida, seu cachorro", o repórter mirou seu par de sapatos na cabeça do norte-americano, que se abaixou e escapou da 'sapatada'.
Lamentável não ter acertado e lamentável também o fato de Zaidi estar preso e ter sido torturado por isso.
Ainda bem que grande parte do povo reconheceu o ato do jornalista, que tem sido aclamado com o título de 'iraquiano honroso'.
No país deles, jogar sapato contra uma pessoa é um insulto bastante grave, pois significa que se considera a pessoa menos que um calçado, que fica sempre no chão e sujo. Principalmente no Iraque, que tanto tem sofrido com a intervenção dos EUA, essa talvez seja uma forma adequada de definir o cawboy texano.

Veja vídeo da 'sapatada': http://br.youtube.com/watch?v=_wrChJjpFVc&feature=related

Leia mais em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u479999.shtml
Crédito da foto: AP

domingo, 30 de novembro de 2008

Abandono?

Um pouco abandonado este blog, confesso. Mas foram 17 dias de dedicação quase exclusiva à Feira do Livro de Porto Alegre. E agora são provas e trabalhos...

Em breve, novos tópicos.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Serra do Sudeste – um alerta aos ambientalistas

E lá fui eu, em saída de campo com o pessoal da turma de Biogeografia, para a Serra do Sudeste Rio-Grandense. Fizemos cinco paradas diferentes, pelo caminho, para observar a geomorfologia, vegetação, solos e outras características de cada local.

Logo na primeira parada, em Arroio dos Ratos, vimos uma extensa área destinada à silvicultura, mais precisamente ao plantio de Eucalipto. As fotos mostram a quantidade de madeira e de terra a serviço das fábricas de celulose. Certo que precisamos de papel, mas os estragos que essas plantações causam ao solo são irrecuperáveis. Isso é o resultado dos problemas econômicos da região somados ao desconhecimento ambiental, pois segundo o professor Hasenack, que ministra a disciplina, a pecuária seria uma boa alternativa ao local. É apenas uma questão de manejo para que esse processo renda a mesma quantia que o plantio de Eucalipto.

Extensa área de plantio de Eucalipto em Arroio dos Ratos

Em seguida, fomos para Encruzilhada do Sul, onde vimos áreas de mata com extração de lenha e, por estar aberta, possível local de pastagem de gado. No entanto, essas atividades não são regulamentadas na região, o que demonstra a falta de fiscalização. Outro ponto preocupante é a possível nascente de rio, que deveria ter seu entorno com 50m de preservação. Mas o que se viu foi uma estrada de chão batido a menos de 2m dali.

Embora muitas outras situações de mau uso da área ou uso irregular tenham sido vistas durante a nossa viagem, chamou a atenção também a região de Tapes. Além das exageradas metragens de plantações de Pinus, que estão tomando conta de toda a orla, pude ver o que o homem faz com suas terras particulares. Havia uma propriedade com área de “Butiazal” (obviamente, um local com vários Butiás, foto ao lado, lindo!), onde permitiam a pastagem de cavalos. Tudo indica que ali dificilmente vai crescer outros butiás, porque os cavalos irão comer todas as mudas que brotarem ao redor. Ou seja, é possível afirmar que locais tão bonitos como esse na foto estão prestes a não existirem mais.

Isso tudo só demonstra como nós, seres humanos, temos a tendência a destruir a natureza ao nosso redor em nome da ganância. É um absurdo como esse desrespeito com o meio ambiente e a falta de fiscalização resultam em desmatamento e uso completamente equivocado de regiões que poderiam render os mesmos lucros com desperdícios reduzidos da utilização sustentável.

É preciso mudar a mentalidade do homem, que deve começar a perceber, se é que ainda não foi possível, a necessidade de preservar as riquezas naturais para que gerações futuras possam viver em um mundo, ao menos um pouco, habitável. Quando será que conseguiremos essa façanha? Quero estar viva para ver!

OBS: Como nem tudo é só tristeza, em meio a todos esses problemas fui surpreendida pelas lindas flores Caliandras que insistiam em colorir a região com seu vermelho irradiante.

Porque a natureza resiste ao homem! (ainda)




terça-feira, 16 de setembro de 2008

Charles Kiefer é o patrono da 54ª Feira do Livro de Porto Alegre

Foi com muita humildade e surpresa que o escritor Charles Kiefer recebeu a notícia de que seria o patrono d54ª Feira do Livro de Porto Alegre. A revelação aconteceu hoje em um café da manhã no Bistrô do MARGS.

“Estou muito surpreso mesmo! Não esperava!” foram as palavras pronunciadas pelo futuro patrono, que toma posse em 31 de outubro, quando inicia a Feira. “Meu patrono simbólico é o José Pozenato. Eu votei nele e achava que ele tinha que ganhar, pois é o mais velho entre nós e merece essa homenagem”, declarou. No entanto, o colégio eleitoral formado por 252 pessoas – entre associados da Câmara Rio-Grandense do Livro, ex-patronos etc. – optou por conceder o título a Kiefer.

Embora os outros concorrentes também tivessem suas qualidades – Jane Tutikian, Carlos Urbim, José Pozenato e Juremir Machado – acredito que Charles Kiefer foi uma escolha acertada. É um escritor consagrado (com mais de 30 títulos publicados e alguns deles adaptados ao cinema, como Valsa para Bruno Stein) e de qualidade. Além disso, passa a impressão, no pouco contato que tivemos, de ser muito humilde e comprometido com a literatura e o livro. Seu ponto fraco, na visão de uma jornalista que o consulta como fonte, é que prefere escrever e não falar, o que para um literato, com certeza, é o ponto essencial.

“Quero dedicar esse patronato a minha filha Sofia, de seis anos, e às crianças deste país. São elas que vão manter os bons hábitos da leitura na sociedade”, concluiu Kiefer em seu breve pronunciamento emocionado.

Crédito da foto: Rômulo Valente

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

(Quase) um desastre total

Nas olimpíadas de Pequim, o Brasil terminou em 23° lugar no quadro de medalhas, com apenas três ouros, quatro pratas e oito bronzes. Ou seja, conseguiu ficar pior classificado do que em Atenas, 2004, quando obteve cinco ouros e acabou na 16ª posição.

Se não fosse o ótimo desempenho de alguns atletas, que se superaram e ganharam medalhas inéditas para o país, podia-se dizer que esses jogos foram um fiasco geral para a nossa delegação. Mas é preciso ser justo e reconhecer que muitos deram o seu melhor e, claro, tiveram um desempenho excelente.

Entre os destaques nacionais, sem nenhum feminismo forçado, devo destacar o papel exemplar das mulheres brasileiras. Ketleyn Quadros, do judo, levou o bronze e ganhou a primeira medalha individual feminina, seguida pela conquista de Maurren Maggi, do salto em distância, que ganhou a medalha de ouro e tornou-se, então, a primeira campeã olímpica em esporte individual a subir o degrau mais alto do pódio. No taekwondo, Natália Falavigna, inaugurou o pódio brasileiro, recebendo o bronze, assim como a gaúcha Fernanda Oliveira e a carioca Isabel Swan, que marcaram a primeira conquista da vela feminina. E não pára por aí, porque as meninas da seleção de vôlei de quadra também ficaram com medalha inédita, e dourada, anulando sua fama de “amarelonas em finais”. Venceram bonito o time norte-americano, por três sets contra um, por sinal, o único set perdido durante toda a olimpíada.

Para que não haja injustiça contra os homens, César Cielo, da natação, também fez bonito em Pequim e trouxe o nosso terceiro ouro, nos 50m livres, além do bronze, nos 100m livres. Os demais medalhistas de prata e bronze também merecem os parabéns, claro, apenas não os destaco pelo fato de não terem conquistado títulos inéditos.

No entanto, é uma pena que um país do porte do Brasil tenha esse desempenho tão ínfimo, perdendo posições no quadro de medalhas para países mais pobres como Jamaica, Quênia e Etiópia. As poucas justificativas que vejo para isso é que, assim como não se valoriza a educação, o esporte não tem investimento sério e comprometido no país. Apesar dos R$ 692 milhões que as empresas estatais e os recursos da Lei Piva destinaram, durante os últimos quatro ano, ao preparo dos atletas olímpicos, não se sabe onde, exatamente, foi parar esse dinheiro nem o porque de continuar sendo insuficiente para melhorar a qualidade da prática esportiva. Temos aí, mais uma vez, o problema da falta de transparência do Estado, que gasta um valor significativo, mas sem destino claramente definido.

Um país que não leva mais nada a sério, além da corrupção, do Carnaval e do futebol (masculino) – que não depende de verbas públicas e, por isso, deveria ter tido um desempenho muito além do bronze –, não pode mesmo querer uma boa performance nos jogos olímpicos. Nessa competição estão reunidos os melhores (e mais bem preparados) atletas do mundo. Sem estrutura, sem acompanhamento financeiro e psicológico, sem o preparo e investimento necessários, nossos grandes talentos conseguem somente chegar perto (ou nem tanto) das tão cobiçadas medalhas.

Sendo assim, devemos parabenizar honestamente àqueles que superaram essas barreiras, mostrando-se vencedores, e pensar melhor no momento em que formos às urnas, em outubro, para escolher os políticos que vão governar o Brasil nos próximos quatro anos. Juntamente com as falhas na educação, na segurança e na saúde, o esporte mostrou, em Pequim, que carece, e muito, da atenção e comprometimento do Estado.

Nas fotos (de cima para baixo): os medalhistas de ouro Maurren Maggi, vôlei femino e César Cielo.

domingo, 17 de agosto de 2008

Palavras sábias


Cena do filme Juventude, de Domingos Oliveira

Estive em Gramado, durante o 36° Festival de Cinema, pois estava trabalhando na cobertura do Encontros com o Professor – evento de Ruy Carlos Ostermann, que acontece quinzenalmente em Porto Alegre, no StudioClio, e está cumprindo uma agenda itinerante pelo interior do Estado. Lá, o convidado para o bate-papo informal, muito bem conduzido pelo Ruy, diga-se de passagem, foi o cineasta brasileiro Domingos Oliveira. No auge dos seus 71 anos, Domingos deu lições de vida para o público presente (ver matéria completa no site www.encontroscomoprofessor.com.br ).

Após o trabalho, pude assistir ao último filme do cineasta, Juventude, que está concorrendo ao Kikito na categoria Longa Metragem Nacional. Achei o filme simplesmente ótimo! A trama conta a história de três amigos que se reencontram após 50 anos e passam a relembrar e confessar vários momentos de suas vidas. Falam dos amores fracassados, das expectativas e planos atingidos, ou não, e das angústias e dúvidas que todo ser humano tem. Mas o mais maravilhoso é que, apesar de os personagens (interpretados pelo próprio Domingos, por Paulo José e por Aderbal Filho) já estarem com 70 anos, eles não se enxergam ou se comportam como velhos, do tipo sábios, serenos e resolvidos. Mostram-se, por outro lado, tão ansiosos e com tantas incertezas e frustações como qualquer jovem costuma estar.

Outro ponto fascinante é perceber que muito do que Domingos revela nas entrevistas, sobre suas convicções e perspectiva de vida, está presente no texto dos personagens. Assim, quem o conhece ou acompanha os seus depoimentos percebe a autoria da obra quase que instantaneamente.

Com a parcialidade de quem foi tocada pelas declarações e pelo filme de Domingos Oliveira, disponho abaixo algumas das melhores frases dele:

“Posso dormir deprimido, mas nunca acordo assim. Tudo o que parecia difícil à noite se torna simples pela manhã.”

“A comodidade e a auto-piedade são inúteis. A vocação do homem é heróica, por isso cada pessoa tem que ser superior ao seu sofrimento.”

“As pessoas podem fazer pouco umas pelas outras. Acredito que ninguém pode ser o responsável por fazer o outro feliz. Cada um tem que estar bem consigo mesmo. Não podemos jogar esse fardo pra cima de alguém.”

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

“Gasto” com educação: parte 2

No mesmo dia que os jornais da Capital gaúcha publicam a ida da nossa governadora Yeda Crusius para Brasília, a fim de contestar a constitucionalidade da nova lei que, segundo ela, representa um rombo nos cofres públicos por aumentar o salário dos professores para os míseros R$ 950 e estabelecer uma nova carga horária extraclasse, também informam o seguinte: foi aprovado por 35 votos favoráveis contra dois o projeto de lei que reajusta o salário da chefe do Executivo em 143% (ou seja, ela passaria a ganhar R$ 17.347,14 mensais). Os ganhos do vice-governador e secretários estaduais também aumentam, mas em 89% (o equivalente a R$ 11.564,76 mensais).

O projeto só espera a sanção da governadora. Será que ela também vai achar essa lei inconstitucional e prejudicial para os cofres públicos???

domingo, 3 de agosto de 2008

“Gasto” com educação

Não costumo aderir à teoria da conspiração, aquela praticada por alguns jornalistas que não trabalham nas grandes empresas de comunicação e ficam, apenas, criticando tudo os que os seus colegas fazem ou escrevem. No entanto, apesar de assinar Zero Hora e enxergar qualidade em muitos textos que leio, confesso que me indignei com uma matéria publicada no dia 2 de agosto (último sábado).

Intitulada Folha salarial do magistério subirá 48,5% com novo piso, a matéria aborda as “despesas” (palavra utilizada pela repórter) que o governo do RS terá quando for sancionada a lei que prevê o aumento do piso salarial dos professores. Com um tom denunciativo, a repórter detalha os “custos da lei”, com base nas opiniões da Secretaria de Educação do Estado.

Trecho da matéria: “O principal problema estaria no fato de a mesma lei estipular o piso como vencimento básico e estabelecer que os professores deverão dedicar 33% da jornada de trabalho a atividades extraclasse”. Entretanto, ao meu ver, esse é um ponto positivo, já que os educadores vêm exercendo atividades extraclasse, não-remunerada, há muito tempo. Tenho uma irmã professora e posso dizer que ela trabalha quase 8h/dia, já que, em casa, elabora aulas, corrige provas, trabalhos etc.

É um absurdo que a repórter apenas tenha exposto os ônus que a lei pode trazer (inclusive com um box ilustrativo de quantos R$/ano vai ser o “custo” nos estados) ignorando os bônus, visto que havia apenas uma frase da presidente do Cpers-Sindicato a favor da mudança. É como se o aumento salarial e a contratação de mais profissionais para o ensino público não fossem, em hipótese alguma, fatores positivos para o incremento da qualidade da educação no país.

Lendo a matéria, têm-se a impressão de que essa é uma atitude dispensável, um luxo desnecessário proposto pelo governo federal. Caso contrário, não teriam sido utilizadas palavras negativas como “despesa” e “custo” com educação. Utilizar “investimento”, por exemplo, seria muito mais adequado e representativo da realidade, pois quando os governos “gastam” com ensino, creio que estão investindo na qualificação do seu povo.

É uma lástima que manifestações contrárias às despesas púbicas ocorram apenas quando se resolve aumentar o piso dos professores para os míseros R$950. Não lembro de nada parecido em momentos de votação de acréscimo salarial para políticos, magistrados etc. Esses, com certeza, são excessos dispensáveis que deveriam ser contestados e contabilizados meticulosamente por toda a imprensa que se julga séria e comprometida com a informação de qualidade.

PS: se eu estiver errada quanto a abordagem da matéria citada, por favor, podem corrigir-me!

sábado, 19 de julho de 2008

Noam Chomsky: um dissidente no país do Tio Sam

Meu primeiro contato com a obra de Noam Chomsky foi em janeiro de 2007, quando comecei a pensar sobre qual assunto iria escrever o meu trabalho de conclusão do curso de jornalismo. Comprei o livro Poder e Terrorismo, uma coletânea de palestras que Chomsky ministrou sobre os ataques de 11 de setembro de 2001, e a impressão que os escritos dele me causou foi a melhor possível.

Chomsky é reconhecido internacionalmente pelos seus estudos lingüísticos – área na qual é doutor e professor, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts – e por suas posições políticas e críticas à política externa norte-americana. Um dos fatores que favorece o respeito e a credibilidade de seus argumentos, na minha opinião, é que ele não se posiciona ou critica o governo dos Estados Unidos sem fundamentação teórica. Tudo que escreve ou diz é o resultado de anos de pesquisa e leitura de documentos oficiais e históricos e da imprensa mundial, os quais menciona com dados bibliográficos completos em cada artigo ou livro seu.

Após ler e reler algumas de suas obras, como 11 de setembro, Piratas e imperadores: antigos e modernos: o terrorismo internacional no mundo real, além do livro já mencionado no início desse texto e de alguns artigos, pude compreender a lógica perversa que está por trás de grande parte das ações externas do governo do Tio Sam. Visto que, nem tudo o que acontece é devidamente registrado pelos veículos de comunicação, acredito ser de grande importância compartilhar alguns dos esclarecimentos que obtive a partir do estudo de Chomsky.

Entre questões controversas e/ou tratadas de forma parcial pela mídia norte-americana, o autor aborda a distorção do conceito de terrorismo. Nesse caso, acredito que o mais apropriado seja transcrever alguns trechos do próprio Chomsky, permitindo que cada um tire as conclusões que mais lhe forem plausíveis.

“Uma breve definição, extraída de um manual do exército norte-americano, diz que ‘terror é o uso premeditado da violência ou da ameaça de violência para atingir metas ideológicas políticas ou religiosas mediante intimidação, coerção ou instilação do medo’. [...] Só que há um problema. Se usarmos a definição oficial de terrorismo desse tratado abrangente, chegaremos aos resultados errados. [...] Se examinarmos a definição de ‘guerra de baixa intensidade’, que é a política oficial dos Estados Unidos, veremos que é uma paráfrase bastante próxima do (conceito) que acabei de ler. Na realidade, ‘conflito de baixa intensidade’ é apenas um outro nome para terrorismo. É por isso que, pelo que sei, todos os países designam de contraterrorismo quaisquer atos horrendos que estejam cometendo.” (CHOMSKY, 2001, p. 19-20).

“ (...) é um gravíssimo erro analítico dizer, como se costuma fazer, que o terrorismo é a arma dos fracos. Como qualquer outro meio de violência, o terrorismo é primordialmente, esmagadoramente, uma arma dos fortes. É considerado a arma dos fracos porque os fortes também controlam os sistemas doutrinários, nos quais o seu terror não conta como terror.” (CHOMSKY, 2001, p. 9).

“E os Estados Unidos estavam fornecendo 80% das armas usadas pela Turquia [na guerra contra os curdos], um fluxo que aumentava à medida que as atrocidades aumentavam, até o pico de 1997. Houve uma diminuição em 1999, pois o terror já havia cumprido sua função – como geralmente acontece quando perpetrado por seus principais agentes, os poderosos. Assim, em 1999 o terror turco – designado contraterror, evidentemente, mas como já disse, isso é universal – mostrou que funcionara.” (CHOMSKY, 2001, p. 13).

“O que torna tudo isso [o apoio dos EUA à Turquia] particularmente chocante é que ocorreu em meio a um tremendo estardalhaço autocongratulatório da parte dos intelectuais do Ocidente, algo provavelmente sem paralelo na história. [...] É espantoso. Acho que nem mesmo num Estado totalitário isso seria possível. [...] Afinal, este é um país livre. Podemos ler relatórios sobre direitos humanos. Podemos ler sobre qualquer coisa. Mas optamos por contribuir para as atrocidades.” (CHOMSKY, 2001, p. 14-15).

Essas citações* são apenas uma ínfima amostra das contundentes idéias e críticas de Noam Chomsky em relação à política externa de seu país. Para quem quiser conhecer mais desse ativista político (fundamental para compreender os conflitos mundiais atuais) e entrar em contato com seus artigos e bibliografia deve acessar o site: http://www.chomsky.info/.

* todos os trechos acima foram retirados do artigo “A nova guerra contra o terror”, proveniente da palestra feita pelo autor, em 18 de outubro de 2001, no Fórum de Tecnologia e Cultura do MIT, EUA, e publicado na revista Estudos Avançados (USP), vol. 16 do ano de 2002.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Uma metralhadora de idéias e a Bossa Nova


Não sou uma pessoa que aprecia poesia. Talvez por ignorância, ou simples falta de sensibilidade aguçada, costumo não as compreender ou simplesmente não me sentir tocadas por elas. Mas contra poetas nunca tive desapreço. Só não sabia que eles poderiam ser tão bem-humorados quanto Fabrício Carpinejar.

Ontem à noite, no Encontros com o Professor, do jornalista Ruy Carlos Ostermann, o Carpinejar foi ótimo! Subiu ao palco com as unhas da mão esquerda pintadas, a palavra 'poesia' escrita na cabeça (por meio de um corte de cabelo), um chapéu nada discreto e um óculos idem. Assim, falou sobre tudo, tudo mesmo. Como uma metralhadora de frases, o poeta excêntrico revelou fatos de sua vida pessoal e falou sobre amor, família, sexo, bom-humor, terapia, e, claro, literatura.

Vale destacar algumas das pérolas (no bom sentido) que ele proferiu, e que, ao contrário da poesia, fizeram algum sentido pra mim.

“É bonito a gente desaparecer em quem a gente ama.”

“Viver não é para ser fácil, mas eu não abdico dessa dificuldade.”

“Achamos que a dor nos deixa sábios, não a alegria.”

“Não valorizamos os erros, mas tem erros na minha vida que me valorizam.”

A canja musical ficou por conta do grupo Bossa Nova 50 anos, também excelente. Tocam muito bem, além de terem feito uma seleção de repertório impecável, só com as melhoras músicas da época: Wave, Garota de Ipanema, Água de Beber.

No dia 24 de julho, será a vez do cineasta Cacá Diegues, no StudioClio, às 19h30min, em Porto Alegre.

Para ler mais sobre o evento, acesse: www.encontroscomoprofessor.com.br

Crédito das fotos: Carlos Carvalho

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Fronteiras do Pensamento trouxe Ayaan Hirsi Ali a Porto Alegre


Nada mais apropriado para lançar oficialmente este blog, que se pretende crítico, do que publicar as idéias de Ayaan Hirsi Ali, considerada uma das 100 pessoas mais influentes do mundo pela Revista Time.

Cabe, primeiramente, apresentar uma breve biografia, para situar aqueles que desconhecem a trajetória dela, que é um exemplo de superação e de luta pela liberdade de expressão.
Ayaan Hirsi Ali é uma africana, nascida na Somalia, que cresceu sob os preceitos da religião islâmica e dos costumes tribais da região. Em 1992, seu pai a prometeu em casamento para um primo distante, o qual a buscaria na Alemanha para morar com ele no Canadá. Chegando na Europa, ela teve certeza de que não queria viver subjugada a um homem que não amava, decidindo, então, fugir antes do matrimônio. Foi para Holanda, onde viveu como refugiada até obter a cidadania holandesa. Posteriormente, formou-se em ciência política, integrou o parlamento holandês e passou a lutar pelos direitos da mulher muçulmana. Atualmente, vive nos Estados Unidos, com seguranças particulares, pois foi jurada de morte pelos fundamentalistas islâmicos. É autora dos livros Infiel e A Virgem na Jaula.


Uma mulher de muita coragemcoletiva de imprensa de Ayaan Hirsi Ali


Cercada por seguranças, Ayaan Hirsi Ali chegou ao Hotel Sheraton, em Porto Alegre, com mais de uma hora de atraso do horário marcado para o início da coletiva de imprensa. As assessoras do evento disseram que foi por causa do atraso no vôo, que vinha de São Paulo, mas soube pelos jornais que a levaram para passear pelo Palácio Piratini antes de chegar ao Hotel. Independentemente do motivo, a espera não desanimou, em momento algum, os jornalistas que lá estavam, todos ansiosos para ouvir as respostas daquela que ficou mundialmente conhecida por desafiar o Islã.

Pela impressão que tive, Ayaan pareceu bastante tímida e reservada, mas segura. Respondeu as questões dos jornalistas olhando nos olhos, sem titubear ou gaguejar. Tinha plena convicção do que estava falando. Também se mostrou muito atenta a tudo em sua volta e à tradução simultânea que o intérprete realizava para ela. O que mais impressiona é o contraponto entre a sua voz suave e aparência delicada, com rosto que lembra os traços de uma menina, e as suas ações e críticas contra os extremismos praticados pelos seguidores da religião islâmica.

Ayaan iniciou a coletiva falando sobre o momento em que passou a questionar o Islã, já que desde pequena foi criada e educada para seguir os preceitos dessa doutrina sem questionar a palavra de Alá. Contudo, após os ataques de 11 de setembro, nos EUA, passou a se perguntar: que tipo de religião é essa que age com extrema violência? A partir daí, percebeu que, ao repreender os atos praticados pelos seus irmãos de fé, não poderia mais ser considerada uma muçulmana.

Assim, começou a sua luta contra os abusos e opressões praticados em nome da religião. Embora já morasse na Holanda, fugida de um casamento arranjado pelo seu pai, Ayaan não estava predisposta a pregar contra os seus costumes até os desfechos de 11 de setembro. Antes disso, apenas vivia de uma forma um pouco mais ocidental do que os seus familiares suportariam – usando calças jeans, andando sem véu pelas ruas e estudando em uma universidade holandesa.

Além dos ataques aos EUA, seu contato com os ideais iluministas também fizeram-na repensar a teoria política pregada pelo Corão.
– Eu tento sempre fazer uma distinção entre as pessoas e as doutrinas muçulmanas. Os seguidores são capazes, na maioria das vezes, de viver em uma democracia, mas as normas políticas disseminadas pela religião são incompatíveis com o iluminismo e a doutrina liberal. Ela prega a submissão de todos a vontade de Deus: as mulheres devem ser obedientes e servis, os homossexuais devem morrer e os não-muçulmanos devem ser subjugados aos muçulmanos, os quais devem pregar por meio da palavra ou do uso de armas – afirmou Ayaan.

É a complexidade da religião islâmica, que segundo ela, deve ser compreendida pelos líderes ocidentais, pois só assim eles poderão ultrapassar a sua fase de apatia, e perceber que essa não é apenas uma religião diferente, que deve ser aceita. Ayaan clamou para que esses líderes ajudem na luta pela emancipação da mulher muçulmana e pela liberdade de expressão.
– É o multiculturalismo existente que permite a permanência de fundamentalistas que ferem os direitos humanos. Os ocidentais ignoram as condições em que vivem grande parte das mulheres e das crianças islâmicas, romanceando essa cultura tribal que, com certeza, não teriam coragem de aplicar aos seus filhos – criticou com veemência.

Um dos piores abusos cometidos em nome da religião é a mutilação do órgão genital feminino. Ayaan, que foi vítima dessa prática tribal, devido às crenças de sua avó, contou que é equivocado associar a extirpação do clitóris feminino com o islamismo, pois nem o Corão nem a Suna manifestam-se sobre esse aspecto. No entanto, declarou que países que seguem os preceitos desses livros acabam por adicionar a mutilação, a fim de garantir a castidade das mulheres até o casamento.
– Sem o clitóris a mulher perde a libido e, somada a costura da região genital, garante que ela se mantenha “intacta” até o casamento. Para acabar com isso é preciso atacar o dogma de que a virgindade é mais importante do que a vida dessas mulheres – combateu Ayaan sob o olhar de consentimento dos jornalistas presentes.

Embora tenha deixado claro que sua intenção não é pregar o ateísmo – mas sim lutar para que as pessoas possam se expressar e aceitar as idéias contrárias às suas, sem achar que devem matar os dissidentes – Ayaan, com a delicadeza que lhe é peculiar, questionou a fé em um ser superior. Por sua experiência de vida, afirmou ter passado a crer na teoria de que foi a humanidade que criou Deus, e não o contrário. (Para ver essa questão na íntegra acesse http://www.youtube.com/watch?v=NSb2hzbO4PU ).

Sobre a vida atribulada que leva, já que precisa viver rodeada de seguranças desde que foi jurada de morte, em 2004, ela garante que procura ter uma rotina normal:
– Dentro dos meus limites, faço tudo aquilo que as outras pessoas fazem, como sair com os amigos, passear, trabalhar.

Ao final da coletiva, que durou cerca de uma hora (e que, na minha opinião, deixou um gosto de ‘quero mais’) a determinada ex-muçulmana lembrou da amizade e dos conselhos de Salman Rushdie.
– Ele é um querido amigo que sempre me motiva para não ceder a pressão, seja ela das ameaças de morte que sofro, ou do fato de ter que andar com segurança pessoal. E não pretendo ceder – finalizou, resolutamente, Ayaan.

Antes de deixar a sala, discretamente, me dirigi a ela e pedi para que autografasse o livro Infiel (sua autobiografia), o qual li admirada. Como não poderia deixar de ser, ela sorriu e assinou a obra que, para o bem ou para o mal, a tornou conhecida no mundo inteiro.

PS: À noite, assisti à conferência do Fronteiras do Pensamento, na qual, além de Ayaan Hirsi Ali, o psicanalista brasileiro Rentato Mezan falou sobre os problemas do multiculturalismo e do fundamentalismo religioso. Mas esse será o tema de um próximo post.

Crédito da foto: Deborah Cattani