segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Para pensar

"Quando começamos a avaliar as mudanças catastróficas, todo um novo debate se inicia. Se não sabemos como as atividades humanas vão afetar a fina camada provedora de vida que deu origem e nutre a nossa civilização, e se não conseguimos imaginar de mandeira confiável como essas mudanças geofísicas em potencial vão afetar a civilização e o mundo ao nosso redor [...] não deveríamos ser ultraconservadores e nos inclinarmos em direção à preservação do mundo natural à custa do crescimento econômico e do desenvolvimento? Será que nos atravemos a colocar o bem-estar da humanidade acima da preservação dos sistemas naturais e confiar que a engenhosidade humana nos salvará, caso a natureza nos atinja de maneira cruel?"

William Nordhaus, Climate Change, 1996.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Salve Saramago!

Sempre tive vontade de ler José Saramago, já que ouvi, incasáveis vezes, muitos elogios sobre a sua ótima literatura. No entanto, sempre adiei essa leitura, por saber que seus textos são densos, escritos em um português de portugal clássico, ou seja, preguiça minha.

Agora, com as declarações que este Nobel de Literatura proferiu contra a religião e a igreja, sinto-me não só mais motivada ainda para lê-lo mas na obrigação de fazer isso. Quando leio o pensamento ateu de figuras nobres como Saramago, sinto-me lisonjeada de compartilhar das mesmas ideias que ele.

A seguir, algumas das declarações que o mestre deu hoje para Zero Hora:

21 de outubro de 2009 N° 16131

LITERATURA

Saramago desafia a Igreja


Ao lançar novo livro, em que reconta o mito de Caim, o Nobel de Literatura é recriminado por líderes religiosos

A Igreja Católica está ofendida com as mais recentes declarações do escritor português José Saramago, de 87 anos. Domingo, ao lançar seu novo livro, na cidade de Penafiel, no distrito do Porto, em Portugal, o Nobel de Literatura havia qualificado o Deus bíblico como “cruel, invejoso e insuportável”.Em Lisboa, um representante oficial do episcopado sugeriu que Saramago tomasse “um caminho mais sério”:

– Ele pode fazer críticas, mas entrar em um gênero de ofensas não fica bem a ninguém, muito menos a um Prêmio Nobel – disse o porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, Manuel Marujão, acrescentando que as declarações do escritor deveriam ser entendidas como uma “operação publicitária”.

Em seu novo romance, intitulado Caim, Saramago recria com tintas irônicas a história de Caim, o filho de Adão e Eva que, por despeito, matou o próprio irmão, Abel. No lançamento oficial, o autor de Ensaio sobre a Cegueira aproveitou para se referir de forma ácida aos textos que os católicos consideram sagrados:

– A Bíblia é um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana. Sem a Bíblia, um livro que teve muita influência em nossa cultura e até em nossa maneira de ser, os seres humanos seriam provavelmente melhores.

Saramago disse ainda que não esperava causar polêmica entre os católicos – “porque eles não leem a Bíblia”. Fez, porém, um adendo:

– Admito que o livro pode irritar os judeus, mas pouco me importa.

O rabino Elieze du Martino, representante da comunidade judaica de Lisboa, respondeu que os judeus não iriam se escandalizar com esse nem com outros textos.

– Saramago desconhece a Bíblia e sua exegese – alegou. – Faz leituras superficiais da Bíblia.

Não é a primeira vez que autor de Jangada de Pedra entra em conflito com autoridades religiosas. Em 1992, ele causou furor com o romance O Evangelho Segundo Jesus Cristo, no qual Jesus vivia um caso de amor com Maria Madalena e aparecia como um sujeito que era usado por Deus na tentativa de ampliar seu poder no mundo. Pouco depois, Saramago deixou Portugal e foi morar em Lanzarote, no arquipélago espanhol das Canárias.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Blog Action Day: mudança climática em pauta

Participando ativamente do Blog Action Day (http://www.blogactionday.org/), hoje vou postar sobre um dos maiores problemas a ser enfrentado pela humanidade: a mudança climática.

Embora seja um fenômeno natural, que ocorreu mais de uma vez na escala geológica, a mudança climática prevista pelos cientistas é preocupante, pelo fato de esta ser uma consequência das ações do homem no planeta. O aquecimento global que vem sendo anunciado não parece ser da mesma magnitude de eventos passados que já atingiram a Terra. Ele será muito mais impactante e catastrófico, na medida em que as modificações da atmosfera, como resultado da emissão de gases de efeito estufa pelo homem, estão acontecendo em níveis cada vez mais elevados.

“Cientistas australianos determinaram recentemente que em 2002 e 2003 os níveis de CO2 subiram em 2,54 partes por milhão por ano em comparação com o aumento médio de 1,8 parte por milhão por ano durante a década anterior” (FLANNERY, 2007, pg 53).

É claro que o dióxido de carbono (CO2) não é o único gás estufa responsável pelo aumento da temperatura do nosso planeta. Metano e óxido nitroso também desempenham um papel importante no aquecimento, mas estão presentes em menores quantidades que o CO2. Outro gás estufa com papel fundamental e até mais efetivo que o do carbono é o vapor d’água. Ele pode estar presente em até 4% da troposfera (camada mais baixa da atmosfera), em comparação com os 0,003% de CO2, mas é pouco constante, sem registros passados, tornando difícil o seu estudo.

Assim, foca-se o problema da mudança climática nas emissões de CO2 pelo homem. Todos os anos, milhares de partículas desse gás são liberadas para a atmosfera, principalmente pelas indústrias e por nossos veículos de transporte. Essa emissão descontrolada, junto ao tempo prolongado de vida do CO2 no ar, faz com que seu efeito seja cumulativo. Além disso, tem-se o agravante da dificuldade de seqüestro do dióxido de carbono, visto que as florestas só desempenham esse papel de absorção com eficácia quando as plantas são jovens, pois a maturidade vem junto com um estado de equilíbrio da vegetação, as quais praticamente não consomem mais CO2.

“(...) estudo demonstrou que existe realmente apenas um grande sumidouro de carbono em nosso planeta, e ele está nos oceanos, que absorvem 48% de todo o carbono emitido pelo homem entre 1800 e 1994 (...)” (FLANNERY, 2007, pg 55).

Mas os oceanos também têm uma capacidade limitada, variando de região para região, não podendo sugar todo o CO2 que jogamos na atmosfera. Isso sem contar o prejuízo causado nesses corpos d’água com o excesso do dióxido de carbono, pela acidificação das águas e conseqüente perda de vida de muitas espécies marinhas.

Abordando tão somente os resultados estimados, e os já obtidos, na vida selvagem do planeta Terra, podemos perceber o quanto essa mudança climática existe de fato e como é importante lutarmos para amenizá-la (já que evita-la por completo é tarde demais). Baseando-se no livro de Tim Flannery, Os senhores do clima, é possível destacar alguns dados assombrosos do aquecimento global:

- Desde 1950 foi observada uma redução de 20% da quantidade de gelo do mar antártico, o que acarretou na redução brusca da quantidade de krill (um dos principais alimentos dos animais polares), logo, na vida de muitas espécies polares.

- Os recifes de coral, o ecossistema mais sensível dos oceanos, estão sofrendo com o aumento das temperaturas. A previsão do cientista Terry Done é de que um aumento de 1°C na temperatura mundial causa a perda de 82% dos recifes e se o aumento for mais de 3°C será uma “devastação total”.

- A rã dourada foi a primeira espécie a ser extinta como um alerta sobre o aquecimento global. Após a estação seca de 1987, na qual não houve a formação de névoa (fonte de umidade), a rã dourada desapareceu de seu hábitat na Costa Rica.

- As espécies de montanhas, ao longo do século XX, recuaram, subindo 6,1 metros em média ao longo de suas encostas a cada década, em busca de temperaturas mais amenas. O aquecimento descontrolado acaba por matar todas essas espécies, que, ao atingir o cume das elevações, não terão mais para onde fugir.

Esses são apenas alguns dos resultados catastróficos causados pela mudança climática que vem acontecendo, acelerados pelo homem. Se não agirmos logo, colocaremos em risco não só as nossas vidas, mas a de todas as espécies que vivem na Terra sejam elas animais ou vegetais.

É preciso agir e, para isso, é necessário que os nossos governantes sejam sensibilizados por essas pesquisas e comecem a pensar que de nada adianta a ganância dos governos, colocando a produção industrial e a energia suja acima dos impactos ambientais, se o planeta não puder mais suportar a vida nos próximos anos.


quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Absurdo ambiental

Segue matéria explicativa, publicada no site da revista Página 22, sobre o novo absurdo proposto pela Câmara dos Deputados.


Leiam e assinem o abaixo-assinado. Assim mostramos nossa indignação e tentamos frear essa estupidez.




É uma bomba (difícil achar outro termo) a proposta que os deputados da bancada ruralista querem aprovar na Comissão Especial de Meio Ambiente. As ONGs e alguns parlamentares do PV e do PSOL estão protelando como podem. Mas estão em menor número, o que aumenta as chances de a Câmara aprovar, numa só tacada, a extinção de todas as principais peças da legislação ambiental brasileira.


São vários os projetos de lei que passarão pelo crivo da comissão, mas o favorito dos ruralistas é o 5367/09, de Valdir Collato (PMDB-SC), deputado do mesmo estado que regularizou a ocupação em áreas de preservação permanente que agora desabam sobre os catarinenses.


O envolvimento da opinião pública é fundamental. Abaixo, um resumo dos principais pontos do PL 5367/09. É ler e pasmar.


- Extingue todas as principais peças da legislação ambiental como a Política Nacional do Meio Ambiente, o Código Florestal, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, entre outras, substituindo-as por uma legislação única chamada Código Ambiental.


- Mata nativa é coisa para unidades de conservação. E só. O resto pode botar abaixo. O projeto acaba com a obrigação dos proprietários rurais em manter um percentual de suas terras com cobertura natural. É o que se chama Reserva Legal. Os percentuais variam de 20% a 80% dependendo da região do País. É fundamental para garantir conectividade aos biomas, sem a qual a biodiversidade empobrece. Não basta restringir a vegetação natural às unidades de conservação, enquanto todo o entorno é devastado. A biodiversidade não resiste em “ilhas verdes”.


- Se a população quiser alguma preservação em áreas particulares, o governo terá que pagar e, mesmo assim, apenas se os proprietários concordarem. Numa dessas a Mata Atlântica pode ir se despedindo do mundo, já que 80% dos remanescentes do bioma estão em propriedades privadas.
- Todo e qualquer licenciamento ambiental teria que ser concluído em no máximo 60 dias. Decorrido o prazo, a licença estaria automaticamente concedida.


Licenciamento ambiental é o processo de autorização que o órgão ambiental concede a todo empreendimento potencialmente poluidor ou degradador. Pode ser um quiosque na praia, pode ser uma gigante hidrelétrica. Dependendo da localização ou do tamanho do impacto, quem licencia é o Ibama, as secretarias de meio ambiente municipais ou estaduais. O prazo estipulado no PL é surreal para grandes projetos. Só o licenciamento do complexo hidrelétrico do rio Madeira demandou quase três anos.


- Áreas de preservação permanente, como mangues, restingas, topos de morro e várzeas passam a se chamar “áreas frágeis”. São protegidas, até que alguém queira derrubar para qualquer tipo de projeto. Se o camarada quiser construir um condomínio de luxo no topo de uma chapada, em princípio, pode. Mediante licenciamento de 60 dias.


Áreas de Preservação Permanente são áreas de grande importância ecológica, cobertas ou não por vegetação nativa, que têm como função preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem estar das populações humanas.


- O Ministério do Meio Ambiente deixaria de ser a autoridade máxima, que passaria a ser exercida por um Conselho de Governo, ligado ao presidente da República. O Conselho Nacional de meio Ambiente (Conama) que hoje tem caráter deliberativo, passaria a servir apenas como órgão de consulta.


Segundo reportagem da Agência Estado, a contenda na Cãmara foi remarcada para o dia 14 deste mês. Das 18 cadeiras da comissão, a bancada ruralista ocupa 10 e insiste em eleger o presidente e o relator, o que tornaria a aprovação das mudanças quase certa.


O Instituto Socioambiental mantém um hot site com o abaixo-assinado “Não deixe a legislação ambiental ser destruída”. Basta acessar e preencher nome, e-mail, cidade, estado e CEP. Participe!
Crédito da foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Misturando preconceitos

Uma das campanhas mais estranhas que vi ultimamente foi a Preconceito Zero (se não me engano o nome é esse). São cartazes que aparecem na janela traseira dos ônibus de Porto Alegre. Tudo estaria muito bem se não fosse o fato de eles misturarem dois tipos de preconceitos, que ao meu ver não são compatíveis.

Um dos cartazes tem mensagem do tipo: "Sou cadeirante e tenho MBA em Marketing. Na sua empresa tem lugar pra mim?". Até aí tudo certo, afinal de contas não existe ainda uma noção de que se pode e deve contratar pessoas portadoras de deficiência física, já que elas são um potencial desprezado. No entanto, outra mensagem que vi dizia: "Sou negro e gerente comercial graduado. Na sua empresa tem lugar pra mim?". Aí não tem cabimento. Comparar o preconceito sofrido por um portador de deficiência, que de fato é alguém que tem algumas limitações físicas, com o preconceito racial é errado. Um negro, a não ser para quem é de fato muito preconceituoso, não possui nenhuma incapacidade inerente à sua cor para não poder ser contratado por uma empresa, mesmo tendo qualificações. Isso não deveria nem ser cogitado como sendo o mesmo caso.

Claro que não posso fechar os olhos e dizer que não há racismo e que os negros concorrem de igual para igual com os brancos às vagas no mercado de trabalho. Mas isso acontece por pura ignorância, já que tendo uma boa formação, como a campanha ressalta, não teria porque deixá-lo de lado. A cor da pele não influencia na capacidade das pessoas de forma alguma!

O que pode acontecer, e acontece muito no Brasil, é o negro não ter as mesmas oportunidades de estudo, pois, em geral, fazer parte da população mais pobre, menos favorecida. Aí não depende apenas do preconceito de alguns, mas sim da falta de capacitação para concorrer de forma igualitária.

O mesmo acontece com cartazes da campanha que trazem homossexuais como exemplos. Agora opção sexual torna alguém menos capaz para o trabalho? Não foi uma boa ideia, embora deva ter sido feita com a melhor das intenções.