domingo, 3 de agosto de 2008

“Gasto” com educação

Não costumo aderir à teoria da conspiração, aquela praticada por alguns jornalistas que não trabalham nas grandes empresas de comunicação e ficam, apenas, criticando tudo os que os seus colegas fazem ou escrevem. No entanto, apesar de assinar Zero Hora e enxergar qualidade em muitos textos que leio, confesso que me indignei com uma matéria publicada no dia 2 de agosto (último sábado).

Intitulada Folha salarial do magistério subirá 48,5% com novo piso, a matéria aborda as “despesas” (palavra utilizada pela repórter) que o governo do RS terá quando for sancionada a lei que prevê o aumento do piso salarial dos professores. Com um tom denunciativo, a repórter detalha os “custos da lei”, com base nas opiniões da Secretaria de Educação do Estado.

Trecho da matéria: “O principal problema estaria no fato de a mesma lei estipular o piso como vencimento básico e estabelecer que os professores deverão dedicar 33% da jornada de trabalho a atividades extraclasse”. Entretanto, ao meu ver, esse é um ponto positivo, já que os educadores vêm exercendo atividades extraclasse, não-remunerada, há muito tempo. Tenho uma irmã professora e posso dizer que ela trabalha quase 8h/dia, já que, em casa, elabora aulas, corrige provas, trabalhos etc.

É um absurdo que a repórter apenas tenha exposto os ônus que a lei pode trazer (inclusive com um box ilustrativo de quantos R$/ano vai ser o “custo” nos estados) ignorando os bônus, visto que havia apenas uma frase da presidente do Cpers-Sindicato a favor da mudança. É como se o aumento salarial e a contratação de mais profissionais para o ensino público não fossem, em hipótese alguma, fatores positivos para o incremento da qualidade da educação no país.

Lendo a matéria, têm-se a impressão de que essa é uma atitude dispensável, um luxo desnecessário proposto pelo governo federal. Caso contrário, não teriam sido utilizadas palavras negativas como “despesa” e “custo” com educação. Utilizar “investimento”, por exemplo, seria muito mais adequado e representativo da realidade, pois quando os governos “gastam” com ensino, creio que estão investindo na qualificação do seu povo.

É uma lástima que manifestações contrárias às despesas púbicas ocorram apenas quando se resolve aumentar o piso dos professores para os míseros R$950. Não lembro de nada parecido em momentos de votação de acréscimo salarial para políticos, magistrados etc. Esses, com certeza, são excessos dispensáveis que deveriam ser contestados e contabilizados meticulosamente por toda a imprensa que se julga séria e comprometida com a informação de qualidade.

PS: se eu estiver errada quanto a abordagem da matéria citada, por favor, podem corrigir-me!

Um comentário:

Anônimo disse...

OLAFlávia, não é por eu ser tua mãe, mas o texto sobre o assunto do aumento da classe do magisterio está muuuuuito bom.Parabens.Cada vez mais tenho orgulho de ti. Beijos.